29/04/2024

Clique aqui para ler a coluna Responsabilidade Social e Ética, o artigo Vestir azul, por Lucila Cano.

 
A comunicação interna das empresas evolui
10/12/2012 - 14:52:50
POR PAULO ANTUNES

Uma sensação de estranhamento tomou conta de meus pensamentos quando me dirigia para participar do Seminário "A Comunicação Interna nas Melhores Empresas para se Trabalhar", realizado pela Mega Brasil. Afinal, o que iria lá encontrar? A dúvida era justificável porque eu havia experimentado a experiência profissional nesse campo nos anos das décadas de oitenta e noventa, do século passado. Ou seja, muita água havia passado por debaixo da ponte. As dúvidas também eram pertinentes porque as novas e novíssimas ferramentas hoje disponíveis não eram nem sonho nas corporações onde participei de processos de comunicação interna, interessantes, vencedores e, claro, importantes.

No contato com as informações trazidas pelos nove "cases" do Seminário, foi possível passar um filme na memória profissional. De alguma forma, em muitas das experiências lá relatadas havia as impressões digitais de ferramentas, processos e, principalmente conceitos então utilizados. Quem não se lembra dos famosos Círculos de Controle da Qualidade, importados da indústria japonesa, que foram aplicados à exaustão nas indústrias e envolviam os funcionários para fazer melhor seu trabalho e participar contribuindo com ideias e propostas para a melhoria geral do ambiente de trabalho? Como se esquecer dos processos para a escolha dos chamados "Operários Padrão" que mobilizavam o chão de fábrica e cuja comunicação interna reportava em seus veículos de comunicação visando criar um ambiente competitivo e harmonioso entre os candidatos da vez? O mesmo pode-se dizer a respeito das Semanas de Segurança do Trabalho, Semanas de Meio Ambiente, dia da Árvore, dia da Água, entre tantos outros motes mobilizadores que tinham na comunicação interna uma importante ferramenta de envolvimento e participação dos funcionários, patrocinados pelos departamentos ou gerências de recursos humanos.

A comunicação interna era então realizada por um conjunto de ferramentas viabilizado conforme fosse a verba disponibilizada. A criatividade aqui era a regra. Mas enfim, havia os jornais murais, os boletins internos, em alguns casos essas publicações ganhavam a forma de uma revista interna. Em casos, onde a comunicação interna tinha alguma relevância, havia mesmo os chamados conselhos editoriais envolvendo diversos setores das empresas, cujos integrantes eram chamados a participar indicando temas, assuntos, enfim, "pautas" para a edição seguinte. Os perfis de funcionários, a história das empresas, seus pioneiros, as políticas de recursos humanos, os futuros investimentos, tudo isso era matéria prima das publicações.

Contudo, havia sempre uma nuvem cinzenta sobre as cabeças dos profissionais de comunicação e também sobre as gerências ou diretorias de recursos humanos. Não havia muitos casos de amplo e perfeito sucesso na comunicação interna e nem mesmo na comunicação empresarial com os seus públicos alvos. As exceções confirmavam a regra. Isso é fato e pode ser testemunhado por muitos profissionais das diversas áreas de comunicação que sucumbiram ao sabor da primeira trovoada. Eu mesmo que vivi períodos dos chamados "planos econômicos", de um país com inflação galopante e ainda imberbe na vida democrática, vi sucumbir pelo menos dois projetos de comunicação empresarial e consequentemente de comunicação interna no contexto do Plano Collor, por exemplo.

 

A constatação era de que o trabalho estava indo bem, os projetos vitoriosos e reconhecidos pelos públicos externos, com prêmios, inclusive, mas diante das incertezas que se seguiram com a aventura do caçador de marajás e sua ministra da economia, tudo ficava em suspenso. Desde os planos de investimentos e ampliação da produção, até, programas de comunicação institucional ou projetos de incentivo cultural, como o que assisti ir para a lata do lixo, apesar de sua importância cultural e educativa e seu desempenho na imprensa e prêmios.

Muita coisa evoluiu

E hoje como as coisas estão? O recorte que trago a partir do  "Guia Você S.A. - As melhores Empresas para Trabalhar" são de um extrato do mundo empresarial brasileiro, um recorte das maiores empresas, muitas delas, multinacionais. O quadro revelado pelos profissionais de empresas como a Telefônica/Vivo, Gerdau, Dupont, Votorantim Metais, Google, Elektro, Eurofarma, Locaweb e Embraco, que deve ser replicado em tantas outras participantes do certame promovido pela Revista Você S.A. indica que a comunicação interna vai muito bem. O desafio, porém, é ampliar esse cenário para milhares de outras empresas.

Aqui nos casos revelados as ações são positivas, os veículos estão antenados com as realidades das empresas, existem equipes enxutas, é claro, e as verbas nem sempre são as maiores. Contudo, o conjunto de experiências relatadas, demonstra que as empresas, parece, acordaram para a importância de ter o funcionário motivado, orgulhoso de trabalhar na empresa e de participar do "time". O conceito de ter "orgulho de pertencer", de "ser embaixador da marca" foram exaustivamente repetidos nas exposições. Enfim, parece que existe uma quase certeza de que a comunicação interna é um elemento importante para o ambiente das empresas e consequentemente para os negócios.

Ficou claro que o tempo transcorrido entre as três décadas que separam a nossa passagem pelo mundo da comunicação interna e hoje, fizeram surgir muitas possibilidades e incremento da comunicação com os colaboradores internos, embora, os house organs, os jornais murais e as campanhas permaneçam com muita importância e eficácia. No dizer de muitos palestrantes, são ferramentas e serão tanto mais úteis se bem utilizadas.

Adequar o conteúdo da comunicação e as ferramentas ao tipo de empresa e público, portanto, permanece sendo o desafio que nós lá no século XX já enfrentávamos. Como fazer chegar as mensagens às unidades fabris distantes, descentralizadas ou aos públicos rurais das fazendas que produziam os insumos para a produção industrial? Certamente o desafio permanece, conforme foi muito bem demonstrado por muitos que vivem essa realidade da descentralização das atividades produtivas. Há realidades cuja comunicação digital é suficiente, porque a realidade da empresa e a cultura do funcionário já não admitem o papel como veículo de transmissão de informações. Mas, há realidades cuja impossibilidade do funcionário estar diante de um computador, na linha de frente da atividade da empresa, cujo boletim impresso é a ferramenta mais adequada.

Contudo, o que mais chamou a atenção e de certa forma quebrou de vez com as minhas dúvidas quanto ao estado da arte da comunicação interna, foi a exposição do representante do setor de comunicação da empresa Google, que em dado momento fez a projeção de uma imagem de um conjunto de pessoas em volta de uma fogueira e sentenciou que aquela continuava a ser a melhor maneira de se comunicar entre as pessoas. Revelou que a prática da reunião, da comunicação direta é enfaticamente utilizada na empresa de comunicação digital pela internet. Essa mensagem em prol do "face to face", aliás, foi apregoada por diversos dos participantes do evento. Isso de certa forma reforçou um entendimento que sempre mantivemos aceso em nossas atividades profissionais muito antes desses tempos de comunicação pela internet. Sempre fomos partidários de que a transparência e envolvimento da alta direção com os projetos e processos eram os mais importantes em todo o processo de comunicação com os funcionários. Se isso continua prevalecendo, valeu a semente que muitos milhares de pessoas envolvidas direta ou indiretamente com os projetos de comunicação empresarial semearam no passado.

Paulo Antunes, jornalista com especialização em educação ambiental, trabalhou com comunicação empresarial e comunicação interna, jornalismo e comunicação ambiental e atualmente pesquisa a história do cinema. E-mail: pauloantunes@uol.com.br

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