O telejornalismo brasileiro nunca mais será o
mesmo após as Olimpíadas de Londres. Sei que esse assunto está esgotado, que o
texto é tardio, mas não pude me furtar a refletir sobre esse momento tão
importante para nós, jornalistas de todo o país. Os caracteres “imagens cedidas
pela TV Record” nos telejornais da Globo foram inevitáveis. Para as massas, a minúscula
fonte em monitores de 14 ou 20 polegadas não é percebida e, se fosse, não faria
refletir sobre o quão duro foi o golpe de Edir Macedo na família Marinho.
Por favor, não entendam golpe de outra
maneira senão a de mostrar para o telespectador brasileiro que o jornalismo da
Globo, apesar de sua inquestionável qualidade, infelizmente é pautado pelos
interesses sociais, políticos e econômicos da empresa. É fato que a emissora
tem limites para reprisar imagens, mas fato é também que sua cobertura do maior
evento esportivo do mundo tenta contribuir o mínimo possível para enaltecê-lo
e, principalmente, angariar mais audiência para a concorrente.
“Que paisagem linda!”, disse Willian Bonner
ao ver a London Eye - famosa roda-gigante inglesa, ao chamar o repórter em um
flash ao vivo no Jornal Nacional. A exclamação simplesmente “vazou”,
tecnicamente falando. E ali parece ter vazado um sentimento. Sentimento de que
o jornalismo global não deveria estar usando um ponto turístico como pano de
fundo para o boletim esportivo das olimpíadas. Sentimento de que os jornalistas
da emissora não deveriam estar restritos a fazer entrevistas curtas, fora dos
locais de competições. Sentimento de que é inexplicável uma das maiores
emissoras de TV do planeta ter que usar fotografias para reduzir o tempo de
exposição das “imagens cedidas pela TV Record”.
Edir Macedo atirou nos cofres, na audiência e
no ego da Globo, mas acabou atingindo a mente, o coração e a alma de qualquer
veículo de comunicação. O Jornalismo – assim mesmo, maiúsculo – deveria ser
preservado acima de tudo. Mas existem alternativas para o limite de tempo para
reprise de imagens? Reportagens sobre os resultados da competição são apenas um
viés de uma cobertura. Mas está claro, como a neve que cai em Londres no inverno
europeu, que o jornalismo global ficou de pés e mãos atados.
A briga pela audiência entre as duas
emissoras nos últimos anos concentrou-se em outras áreas que não a esportiva. A
Record investiu em programas de entretenimento, em telejornalismo e em telenovelas,
talvez o “Calcanhar de Aquiles” da adversária. Mas nunca havia afrontado tanto
a líder quanto agora, situação que vai se repetir durante toda esta década.
Edir Macedo comprou os direitos dos Jogos de Inverno (2014), Panamericanos
(2015 e 2019) e Olimpíadas (2016). Ainda não conquistou aquele que para os
brasileiros é o maior evento esportivo: a Copa do Mundo de Futebol. Mas a queda
de Ricardo Teixeira na CBF, as denúncias de corrupção contra ele e João
Havelange na Fifa parecem ser alguns indícios de que a exclusividade da Globo
pode estar próxima do fim.
Enquanto isso, o brasileiro menos avisado vê
Ana Paula Padrão, Paulo Henrique Amorim, Adriana Araújo, Celso Freitas, Marcos
Hummel, Mylena Ciribelli, Fabiana Scaranzi, entre outros, em sua TV de 14 ou 20
polegadas, e não percebe que a logomarca redonda e colorida no canto da tela
mudou, porque o jornalismo da Record, pelo menos nas Olimpíadas de Londres,
merece a mesma medalha de ouro que os telespectadores atribuíam à Globo, que
este ano não subiu no pódio.
Francisco José Pereira é jornalista
especializado em Comunicação Empresarial, Marketing e Gestão Empresarial