29/04/2024

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Globo desce do pódio pela primeira vez na história
06/08/2012 - 11:45:54
POR FRANCISCO JOSÉ PEREIRA

O telejornalismo brasileiro nunca mais será o mesmo após as Olimpíadas de Londres. Sei que esse assunto está esgotado, que o texto é tardio, mas não pude me furtar a refletir sobre esse momento tão importante para nós, jornalistas de todo o país. Os caracteres “imagens cedidas pela TV Record” nos telejornais da Globo foram inevitáveis. Para as massas, a minúscula fonte em monitores de 14 ou 20 polegadas não é percebida e, se fosse, não faria refletir sobre o quão duro foi o golpe de Edir Macedo na família Marinho.

Por favor, não entendam golpe de outra maneira senão a de mostrar para o telespectador brasileiro que o jornalismo da Globo, apesar de sua inquestionável qualidade, infelizmente é pautado pelos interesses sociais, políticos e econômicos da empresa. É fato que a emissora tem limites para reprisar imagens, mas fato é também que sua cobertura do maior evento esportivo do mundo tenta contribuir o mínimo possível para enaltecê-lo e, principalmente, angariar mais audiência para a concorrente.

“Que paisagem linda!”, disse Willian Bonner ao ver a London Eye - famosa roda-gigante inglesa, ao chamar o repórter em um flash ao vivo no Jornal Nacional. A exclamação simplesmente “vazou”, tecnicamente falando. E ali parece ter vazado um sentimento. Sentimento de que o jornalismo global não deveria estar usando um ponto turístico como pano de fundo para o boletim esportivo das olimpíadas. Sentimento de que os jornalistas da emissora não deveriam estar restritos a fazer entrevistas curtas, fora dos locais de competições. Sentimento de que é inexplicável uma das maiores emissoras de TV do planeta ter que usar fotografias para reduzir o tempo de exposição das “imagens cedidas pela TV Record”.

Edir Macedo atirou nos cofres, na audiência e no ego da Globo, mas acabou atingindo a mente, o coração e a alma de qualquer veículo de comunicação. O Jornalismo – assim mesmo, maiúsculo – deveria ser preservado acima de tudo. Mas existem alternativas para o limite de tempo para reprise de imagens? Reportagens sobre os resultados da competição são apenas um viés de uma cobertura. Mas está claro, como a neve que cai em Londres no inverno europeu, que o jornalismo global ficou de pés e mãos atados.

A briga pela audiência entre as duas emissoras nos últimos anos concentrou-se em outras áreas que não a esportiva. A Record investiu em programas de entretenimento, em telejornalismo e em telenovelas, talvez o “Calcanhar de Aquiles” da adversária. Mas nunca havia afrontado tanto a líder quanto agora, situação que vai se repetir durante toda esta década. Edir Macedo comprou os direitos dos Jogos de Inverno (2014), Panamericanos (2015 e 2019) e Olimpíadas (2016). Ainda não conquistou aquele que para os brasileiros é o maior evento esportivo: a Copa do Mundo de Futebol. Mas a queda de Ricardo Teixeira na CBF, as denúncias de corrupção contra ele e João Havelange na Fifa parecem ser alguns indícios de que a exclusividade da Globo pode estar próxima do fim.

Enquanto isso, o brasileiro menos avisado vê Ana Paula Padrão, Paulo Henrique Amorim, Adriana Araújo, Celso Freitas, Marcos Hummel, Mylena Ciribelli, Fabiana Scaranzi, entre outros, em sua TV de 14 ou 20 polegadas, e não percebe que a logomarca redonda e colorida no canto da tela mudou, porque o jornalismo da Record, pelo menos nas Olimpíadas de Londres, merece a mesma medalha de ouro que os telespectadores atribuíam à Globo, que este ano não subiu no pódio.

Francisco José Pereira é jornalista especializado em Comunicação Empresarial, Marketing e Gestão Empresarial

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